sexta-feira, junho 23, 2006

Sessão 11: SF & genre boundaries e Sessão 12: Apocalypse!

Era difícil a escolha. Por sorte as sessões estavam a decorrer em salas adjacentes. E assim comecei pelo «Apocalypse!», assistindo a
JJ Sargent, «Apocalyptic vision, the mythos of the rocket, and the failure of the individual in thomas Pynchon's alternate history, Gravity's Rainbow»: O JJ Sargent é uma figura. Não só pelo físico de Eduardo Prado Coelho como pelo facto de ser um «water connoisseur» (a melhor água mineral que bebeu é de Fiji, e custa módicos 30 dólares a garrafa) e também por ter paginado o programa e escolhido os filmes para o Late-Night Film-a-thon (já lá iremos). A comunicação foi bastante interessante, explorando a ideia do rocket como ícone apiocalíptico na conhecida novela do Pynchon, e da ligação deste a uma ideia «cheap nihilist» de apocalipse, i. e., como progressão natural para uma maior estado de entropia. E a propósito das ligações ao contexto social em que foi escrita a novela, mas também o actual, «The madness continues», concluía a apresentação.
A seguir vinha a Grace Dillon, com uma comunicação sobre o Mindscape, da Andrea Hairston, mas escapuli-me discretamente para a sessão ao lado. Perdi -- na verdade não se perdeu nada, como veremos -- «The language of genre: Science fiction and manistream ideology», de William Lomax, mas assisti a:
Steven D. Berman, «Colliding genres: compromised art or hybrid?»: deve falar-se de hybrid genres ou de inbreeding? Alguns exemplos de que não há géneros puros: Lois Bujold (SF + F), Lovecraft (SF + horror), etc.
Ritch Calvin, «Crossing the Rubicon: Relevance and science fiction in a post-genre age»: Mais uma comunicação sobre a luta entre SF e fantasy. Há uns anos o Barry Malzberg disse, a propósito da ascensão da fantasy sobre a SF, que se o papel da SF era habituar-nos à tecnologia, essa missão está cumprida, dando lugar à fantasy. O Ritch Calvin argumentou de forma oposta: quanto mais os géneros se misturam, mais cada um deles pode evidenciar-se; o domínio da SF sobre a fantasy (bem como o inverso) seria por isso apenas temporário.
No período de debate, o William Lomax tomou as rédeas. (Era de prever: quando eu cheguei, e apesar de já não ter assistido à sua comunicação, entregaram-me um esqueleto da argumentação, que ele fez questão de distribuir por todos os presentes.) Levantou-se (quando todos os outros permaneceram sentados), sugeriu que afinal, apesar das diferenças de superfície, as outras comunicações iam ao encontro da dele, etc. Estão a ver o género, não estão? Mas há mais, como eu descobriria no dia seguinte...

Ainda numa outra sala, mais uma sessão de «Meet the authors», com Nancy Kress, Nalo Hopkinson e o guest of honor Norman Spinrad.

Sessão 8: SF and politics in the big screen

Mark Decker, «Why do Sith lords speak in absolutes? George Lucas' political critique of binary thought»: As duas trilogias «Star Wars» à luz do contexto político da(s) época(s), o pós-Vietname no caso da primeira, o pós-11 de Setembro no caso da última. A destacar, uma comparação entre o pensamento binário dos Sith e o dum certo presidente cujas iniciais são G. B.
Lincoln Geraghty, «Childhood dreams: The young, the old, and the alien visitor in 1980's American science fiction film»: Por que razão o ET e outros filmes da época eram tão dirigidos a um público infantil e juvenil? Porque as crianças reagem mais positivamente e sem preconceitos ao alien ou tão-só porque Hollywood presume que o espectafor é childlike? Estas hipóteses foram exploradas, bem como uma ocntextualização dos filmes de SF da época perante a Reaganomics, especialmente no caso do filme * batteries not included (alguém conhece????)
Adam Frisch, «The Byronic hero and excessive violence in science fiction films»: Confesso que cheguei a associar «byronic» a um jogo de palavras entre «bionic» e «ironic», o que nos levaria por caminhos bem interessantes. Afinal era simplesmente «byronic» de Byron, entendido enquanto renovação da ideia de herói trágico de Aristóteles, mas nem por isso deixou de ser interessante a argumentação, segundo a qual as personagens schwarzeneggerianas e outras são por sua vez uma renovação do herói de Byron.

Em simultâneo, uma sessão sobre «SF sleuthing» e um painel especial com uma mesa redonda «Global Warming».

Lunch with Nalo and Nancy

Pelo super-módico preço de 20 dólares (10 para graduate students, hooray!), um almoço de confraternização com o resto dos participantes, que isto de socializing é tão importante quanto as comunicações propriamente ditas. A meio do almoço, Nancy Kress e Nalo Hopkinson leram cada uma uma short story da sua autoria (creio que num dos casos escrita de propósito para a ocasião) que encaixassem no tema da conferência, e depois disso houve também um sorteio de rifas, que eram os passes para o almoço. Os prémios? Canecas, t-shirts e, the big one, uma cópia autografada e ilustrada do print do conto lido pela Nalo Hopkinson (está com MUITO menos cabelo do que na foto, garanto-vos!).
Não, não me saiu nada na rifa...

Sessão 6: SF and global power

Uma primeira visita à banca de livros fez-me chegar atrasado a este painel. Já estava quase no final o Jason W. Ellis, um estudante de doutoramento da GeorgiaTech, com «Networks of science, technology and science fiction during the American Cold War». O que foi pena: o tema interessava-me, e até tinha pontos de contacto com a minha tese.
E depois...
David Mead, «Jack Vance and the Cold War»: ouvia-se um pouco mal; a voz dele não ajudava, eu eu praticamente não conheço os contos de SF do Jack Vance (como o tipo dizia no início, o Vance é essencialmente conhecido pelos contos da «Dying Earth», e aqui não eram esses que estavam em causa)
E o prato do dia, Marleen Barr, «Politics collides with science fiction or George Bush and the Borg»: não era propriamente uma habitual conferência académica, e sim quase uma espécie de «sit down comedy». Muito divertida, com Condoleezza Rice a transformar-se no cyborg-clone fálico de G. B., respondendo pelo nome de E2Z2 (vejam lá porquê!), e envergando um fato de dominatrix à Trinity e high heeled stilletos (apesar de no interior, repito, ser um clone fálico do G. B). A crítica a esta abordagem por parte dos académicos mais puros -- no caso o Mack Hassler -- era inevitável. Uma espécie de Velho do Restelo ao contrário, a demonstrar esperança na malta nova e desconfiança pelas «deserções» dos consagrados. Sabiam que há 4 anos a média de idades de participantes da SFRA estava perigosamente a entrar na «menopausa», e que nada disso se vê agora, apesar de velhinhos como o John J. Pierce?
Pela minha parte, confesso que não sei por que lado me decidir: a Mar-lin Borr goza de um estatuto privilegiado na comunidade dos SF studies (mas não sem muitas vozes críticas), e a atitude demasiado altiva de vedeta não ajudaram (nem -- suspeito -- o botox, mas o sotaque cerrado de Queens tem piada). Agora que ganhou esse estatuto, em parte por ter ganho o prémio Pilgrim (but more of that later), parece ter mandado às favas algumas formalidades (leia-se rigor académico), optando por um estilo que me recorda uma conferência, aqui há uns 9 anos, da Sandy Stone em Lisboa. Voltou-se para a ficção, com Oy, Pioneer! (but more of that later) e isso contaminou o ensaio. E no entanto, tudo naquele discurso batia certo: a «Condi E2Z2» é mesmo um clone do G. B., e a condição de mulher e de negra é só um disfarce, apesar de, ao contrário da Hilary (fat thighs!), lhe ficarem bem os stilletos, e até mesmo o ar de dominatrix serve para esconder que é um cyborg passivo, etc. etc.

Ao mesmo tempo, noutras salas, um painel sobre «Race and gender equity», outro sobre «SF and the introduction to literature course», e uma sessão «Meet the authors» (Garcia y Robertson, William Sleator e Bruce Taylor)

Sessão 3: Homage to SF Icons

Logo às 8h30m, que de manhã é que se começa o dia. E para despachar logo a coisa, eu fui o primeiro a apresentar, algo muito simples sobre a metodologia que segui na investigação para a minha tese.
A seguir...
F. Brett Cox, «"He realized he had been screaming": elements of horror in the early fiction of Robert A. Heinlein»: sobre a dimensão menos hard SF do Heinlein, ou melhor, as suas derivas (por vezes bem disfarçadas) pelas outras dimensões do fantástico, nomeadamente o que há de lovecraftiano em contos como «And he built a crooked house» e «By his bootstraps»
Phil Nichols (afinal não era o Peter), «Echoes across a half-century: Ray Bradbury's Leviathan '99»: A história bastante entangled de Leviathan'99, do Ray Bradbury, uma versão space opera do Moby Dick. Em 1956, o Ray Bradbury escreveu a adaptação ao cinema (para o John Huston) da novela Moby Dick, e isso deu-lhe a ideia para uma versão SF. Foi uma peça radiofónica para a BBC, foi uma peça teatral, esteve para ser uma novela, sofreu inúmeras alterações e possivelmente será este ano publicada uma versão final.

Em paralelo, uma sessão sobre SF & TV e uma mesa redonda sobre «lesbianism and male homosexuality in Sf and society». A moderar este último, obviamente, o Samuel Delany.

The nature of the beast

O programa completo pode ser visto aqui. 60 papers, uma série de mesas redondas, banca de livros, painéis especiais e sessões de autógrafos. Impossível ver tudo, até porque há sempre coisas a correr em paralelo.

Chegada

Ponto de passagem obrigatório em qualquer conferência: a entrega de documentação aos participantes. No caso, além do costumeiro badge, uma caneca com uma ilustração do tema deste ano («When Genres Collide»: 4 meteoritos a colidir, um de SF, outro de fantasy, outro de horror, um último de mystery) e ainda algumas advance copies:
- Norman Spinrad (era o convidado de honra), The Void Captain's Tale, de 1983 (um livro que deve ter vendido pouco, a avaliar pelas pilhas de hardbacks intocados -- apenas com o spot preto de devolvido ou equivalente -- que havia por distribuir);
- Paul Park, A Princess of Romania («Free exclusive edition»);
- William Sleator, The Green Futures of Tycho (um uncorrected bound manuscript, i. e., provas tipográficas ainda por rever fotocopiadas e encadernadas a cartão; havia muitos outros, quase todos da Tor, mas para venda a preço de ocasião);
- exemplares da Fantasy & Science Fiction de Fevereiro e Março. Como perdi o primeiro dia, já só apanhei o de Fevereiro.